O DIFÍCIL FACILITÁRIO DO VERBO OUVIR
A
figura acima retrata muito bem o nosso cotidiano, visto que as pessoas não estão
mais associando a imagem ao som, tem proporcionado certos contratempos que
dispersam facilmente a nossa atenção, e a cada vez mais, nós ouvimos menos,
compreendemos menos, e associamos menos ideias, às vezes fazemos o trabalho
duas ou mais vezes, porque não ligamos um ponto ao outro, visto que o assunto é
o mesmo, a imagem facilita nossa compreensão, mas para isso necessitamos estar
cada vez mais aplicados e livres para assimilar as ideias e coordenadas em
nossa mente.
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A
sátira que faz a imagem ao lado, dá outro sentido ao real, que sempre observamos
no meio de convívio social, as pessoas tendem a ter um duplo sentido do real
e o sentimento vivido.
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Recordando os últimos acontecimentos
vivenciados em nosso país, “a revolta dos 20 centavos” recentemente e ainda em
sua repercussão nacional, observamos muito bem esta fala, porque tudo começou
com um pequeno grupo em São Paulo que reivindicava “o não aumento das tarifas
de transportes públicos”, e que, tomou uma direção de nível nacional e até
internacional, onde a população foi as ruas e manifestou todas as suas
necessidades e indignações em vários setores. Haja visto que no meio de tantas
pessoas pacíficas, encontramos detratores, vândalos, pessoas com más intenções
que causaram certos transtornos e destruição as cidades, o que deveria ser
apenas um marco de conquistas da democracia pela voz da população. Vemos
também, que houve muitas discussões acerca deste marco na história do Brasil,
dos mais convincentes aos mais pejorativos que denigrem a imagem do poder
público e auxiliam a reflexão dos protestos.
Há
certo tempo atrás, já ouvia contar uma “parábola”, onde havia um rei mui
presunçoso no passado, que mandou fazer uma festa muito grande em seu
reinado, e num tom de voz pediu ao seu porta-voz e uma pequena tropa que
enviasse um bilhete ao rei das terras vizinhas. Só que ao descrever sua fala,
o escrivão esqueceu-se de um pequeno detalhe, “Se o Rei não quiser vir,
traga-o a forca”. Os soldados recebendo o recado e observando que o convidado
não queria estar presente em sua festa, trouxe-o realmente “a forca” e
levando-o ao óbito. O que deveria ser apenas “a força”, observamos a
diferença do poder da palavra, da intenção de voz, e do erro da escrita “c”
por “ç”.
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A
imagem anterior está associada aos itens em que o “RECEPTOR NÃO OUVE O QUE O
OUTRO FALA”: Ele ouve o que o outro não está dizendo, pois a partir do momento
em que a agressão física torna-se a figura principal do ato do ser humano, é
mais do que claro que os ouvidos deixaram o seu funcionamento normal e passaram
a utilizar-se de outros meios para se dialogarem. Ele ouve o que quer ouvir,
pois a razão passa a ser sua função, os interesses próprios e outros
sentimentos individuais são tomados, pelo ato e defesa de si, combatendo ao
outro. Ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando
naquilo que se acostumou a ouvir, devido ao processo repetitivo de afrontas e
desentendimento entre as partes, qualquer palavra pronunciada torna-se um
grande agravante para enfurecer mais ainda o confronto entre as partes,
qualquer possível forma de apaziguar a situação precisa ser bem claro, nítida,
pois certos confrontos da história da sociedade ainda assim, partiram de forma
intencional. Ele apenas ouve o que está sentindo, a sensação é muito forte, não
há possibilidade de reflexão e interpretação do outro, apenas de si mesmo. E no
geral, numa guerra, numa discussão, os discutidores não ouvem o que o outro
está falando. Eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em
seguida.
Em
discussão com pessoas do cotidiano pessoal, escolar e profissional, a fala é
sempre a mesma, todos recordam e remetem há um fator de confronto entre as
pessoas, a dificuldade de relacionamento interpessoal é a cada dia mais o maior
objetivo da história da humanidade de um mundo com um senso comum.
A
fala é uma das principais articulações físicas do corpo humano, e a principal
forma de comunicação dos homens, lembrando que todos são sujeitos às
adversidades do pensamento crítico do receptor, do sentimento e sensação
presenciada pelo outro, mesmo assim, é o maior vínculo entre as pessoas, não
somente pela palavra pronunciada, e sim pela sensação que está engajada na
intenção e fruição entre as partes. Até mesmo o surdo se utiliza a fala para se
comunicar, desta vez, por ele não pronunciada pela língua, mas também sujeita
ao que o receptor não ouve o que o outro fala.
(Texto de Rafael Correia Lima, SP, 2013)
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