segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O difícil facilitário do verbo ouvir

O DIFÍCIL FACILITÁRIO DO VERBO OUVIR
           



A figura acima retrata muito bem o nosso cotidiano, visto que as pessoas não estão mais associando a imagem ao som, tem proporcionado certos contratempos que dispersam facilmente a nossa atenção, e a cada vez mais, nós ouvimos menos, compreendemos menos, e associamos menos ideias, às vezes fazemos o trabalho duas ou mais vezes, porque não ligamos um ponto ao outro, visto que o assunto é o mesmo, a imagem facilita nossa compreensão, mas para isso necessitamos estar cada vez mais aplicados e livres para assimilar as ideias e coordenadas em nossa mente.




A sátira que faz a imagem ao lado, dá outro sentido ao real, que sempre observamos no meio de convívio social, as pessoas tendem a ter um duplo sentido do real e o sentimento vivido.

            Recordando os últimos acontecimentos vivenciados em nosso país, “a revolta dos 20 centavos” recentemente e ainda em sua repercussão nacional, observamos muito bem esta fala, porque tudo começou com um pequeno grupo em São Paulo que reivindicava “o não aumento das tarifas de transportes públicos”, e que, tomou uma direção de nível nacional e até internacional, onde a população foi as ruas e manifestou todas as suas necessidades e indignações em vários setores. Haja visto que no meio de tantas pessoas pacíficas, encontramos detratores, vândalos, pessoas com más intenções que causaram certos transtornos e destruição as cidades, o que deveria ser apenas um marco de conquistas da democracia pela voz da população. Vemos também, que houve muitas discussões acerca deste marco na história do Brasil, dos mais convincentes aos mais pejorativos que denigrem a imagem do poder público e auxiliam a reflexão dos protestos.
Há certo tempo atrás, já ouvia contar uma “parábola”, onde havia um rei mui presunçoso no passado, que mandou fazer uma festa muito grande em seu reinado, e num tom de voz pediu ao seu porta-voz e uma pequena tropa que enviasse um bilhete ao rei das terras vizinhas. Só que ao descrever sua fala, o escrivão esqueceu-se de um pequeno detalhe, “Se o Rei não quiser vir, traga-o a forca”. Os soldados recebendo o recado e observando que o convidado não queria estar presente em sua festa, trouxe-o realmente “a forca” e levando-o ao óbito. O que deveria ser apenas “a força”, observamos a diferença do poder da palavra, da intenção de voz, e do erro da escrita “c” por “ç”.




A imagem anterior está associada aos itens em que o “RECEPTOR NÃO OUVE O QUE O OUTRO FALA”: Ele ouve o que o outro não está dizendo, pois a partir do momento em que a agressão física torna-se a figura principal do ato do ser humano, é mais do que claro que os ouvidos deixaram o seu funcionamento normal e passaram a utilizar-se de outros meios para se dialogarem. Ele ouve o que quer ouvir, pois a razão passa a ser sua função, os interesses próprios e outros sentimentos individuais são tomados, pelo ato e defesa de si, combatendo ao outro. Ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir, devido ao processo repetitivo de afrontas e desentendimento entre as partes, qualquer palavra pronunciada torna-se um grande agravante para enfurecer mais ainda o confronto entre as partes, qualquer possível forma de apaziguar a situação precisa ser bem claro, nítida, pois certos confrontos da história da sociedade ainda assim, partiram de forma intencional. Ele apenas ouve o que está sentindo, a sensação é muito forte, não há possibilidade de reflexão e interpretação do outro, apenas de si mesmo. E no geral, numa guerra, numa discussão, os discutidores não ouvem o que o outro está falando. Eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em seguida.
Em discussão com pessoas do cotidiano pessoal, escolar e profissional, a fala é sempre a mesma, todos recordam e remetem há um fator de confronto entre as pessoas, a dificuldade de relacionamento interpessoal é a cada dia mais o maior objetivo da história da humanidade de um mundo com um senso comum.

A fala é uma das principais articulações físicas do corpo humano, e a principal forma de comunicação dos homens, lembrando que todos são sujeitos às adversidades do pensamento crítico do receptor, do sentimento e sensação presenciada pelo outro, mesmo assim, é o maior vínculo entre as pessoas, não somente pela palavra pronunciada, e sim pela sensação que está engajada na intenção e fruição entre as partes. Até mesmo o surdo se utiliza a fala para se comunicar, desta vez, por ele não pronunciada pela língua, mas também sujeita ao que o receptor não ouve o que o outro fala.

(Texto de Rafael Correia Lima, SP, 2013)

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